Olá Mãe!

Oi Mãe que saudades da senhora! Sei que nos falamos todos os dias pelo telefone, mas precisei escrever isso, escrevendo me sinto mais a vontade para lhe falar sobre meus sentimentos que a senhora já conhece bem. Manzinha a senhora sabe que eu nunca tive problemas para me relacionar socialmente com as pessoas, também nunca me importei com classes, raça, credo ou religião sempre fui humilde e tenho comigo esse conceito de igualdade sem limites (a senhora sabe disso). Mãe a senhora me conhece e sabe como eu encaro a vida, não me importo com dificuldades, já tirei muitas pedras do meu caminho e já caí muito tropeçando nessas pedras, mas sempre levantei e segui adiante e sua mão sempre esteve estendida para me ajudar. Acontece que atualmente tenho andado perdida e com medo das dificuldades, mais não é medo de encarar o problema, meu medo é de encarar pessoas que eu nem sei quem é. Pessoas que eu conheço externamente mais que não tenho a mínima idéia de quem sejam por dentro. Lembra quando lhe falei que não acreditava mais no ser humano, que pra mim o homem era um ser perdido em meio a esse mundo de terror? Sei que vai lembrar. A senhora me disse pra não desistir de acreditar para dar mais uma chance e tentar conhecer pessoas que me fizessem mudar esse conceito. Pois é, foi isso que eu fiz desde que abandonei tudo aí e vim pra cá sozinha. Eu disse que sozinha poderia conhecer e senti dificuldades que jamais conheceria se estivesse aí ao seu lado. Encarei tudo de cara limpa, vim morar na casa de pessoas estranhas. Não conhecia nada, não sabia fazer nada, mais decidi encarar, fui humilhada, ofendida e muitas vezes fui motivo de chacota alheia, mas pra mim tudo bem eram só palavras e pessoas que não significavam nada para mim. Pessoas que na minha frente eram amáveis e gentis, mais que pela minha costa ofendiam-me e diziam coisas absurdas para outras pessoas que nem se quer me conheciam. Digo isso porque flagrei muitas vezes conversas onde eu era o principal assunto. Mais eu tinha uma meta, e cumpri passei quase um ano morando sobre o mesmo teto dessas pessoas apenas por querer conhecê-las e verificar até onde vai a humildade e a generosidade humana. Lembra quantas vezes te liguei chorando e dizendo que não conseguiria, e a senhora mesma me pedia pra desisti? Mais aí eu pensava, não sou tão fraca para desisti agora, acontece que chegou um momento em que tudo isso, essa pressão tava mexendo com meu relacionamento com as pessoas que eu mais amo no mundo, estava me afastando de mim mesma, e comecei a achar que não eram as pessoas que eram ruins, eu era quem não deveria está aqui nesse mundo. Foi difícil recuperar minha alegria de viver, mais eu consegui e tentei mais uma vez acreditar nas pessoas, acontece mãe que eu percebi que não dar para acreditar nelas, tentamos ajudar-las, tentamos entende-las mais elas simplesmente ignoram isso quando se encontram em situações de risco, pisam na gente e nem olham pra ver em quem pisaram. Ajudar os outros é dar a cara a tapa, não adianta mãe, por mais que nos esforçamos sempre sobra pra gente. Recorro à senhora mais uma vez em busca de colo e do seu amor generoso, que vontade eu sinto de abraçá-la e ouvir seus conselhos me dizendo que tudo bem, que dar tudo certo. Mãe eu não te contei mais depois que comecei trabalhar no meu novo trabalho tudo mudou em mim. Ouvi muitas coisas caladas apenas por não querer prejudicar ninguém, acontece que por medo de prejudicar outros acabei pagando o pato. Preciso muito ir para casa e ficar perto de pessoas que se preocupam comigo, sinto tanta falta do meu pai das brincadeiras, daquela bagunça no horário de almoço quando todos estavam juntos. Sinto falta da senhora me chamando atenção por eu ter chegado tarde em casa, rsrsrs, sempre dobrei a senhora com meu jeito de brincar com suas broncas não é?  Te Amo.